SBHCI: Quais foram os principais achados do seguimento de 1 ano do estudo Matrix e quais são as implicações desses resultados na prática clínica cotidiana?
Neste ano, dois importantes documentos somaram-se às evidências disponíveis atestando o benefício do acesso radial, comparado ao femoral, na redução de eventos clínicos adversos líquidos, definição esta que engloba os desfechos compostos por morte, infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico e sangramento grave, notadamente entre os pacientes com diagnóstico de síndrome coronariana aguda SCA. Tratam-se da revisão sistemática da base de dados Cochrane1 e da atualização da Diretriz Europeia de Revascularização Miocárdica,2 que conferem ao primeiro uma indicação classe I, nível de evidência A, como acesso vascular preferencial.
Sob esses fundamentos sólidos, Valgimigli M e col. apresentaram no Congresso Europeu de Cardiologia 2018 os resultados finais de um ano do programa Minimizing Adverse Haemorrhagic Events by Transradial Access Site and Systemic Implementation of Angiox (MATRIX),3 iniciativa ambiciosa incorporando três ensaios clínicos randomizados que compararam a segurança e a eficácia do acesso radial versus o femoral, bem como da bivalirudina versus heparina não-fracionada (HNF), com uso opcional de inibidores de glicoproteína IIbIIIa, além da duração ideal de infusão daquela após a realização de intervenção coronária percutânea, em todos os espectros da SCA, igualmente distribuídos na apresentação com (47,7%) ou sem (52,3%) supradesnivelamento do segmento ST.
Com seguimento completo de 99,8% da população inicial (8.404 pacientes), reproduziram-se os benefícios inicialmente reportados na publicação dos resultados de 30 dias, favoráveis ao acesso radial, com redução de 11% no risco relativo (RR) de eventos cardiovasculares adversos graves (14,2% versus 15,7%; p=0,0526) e de 13% no RR de eventos clínicos adversos líquidos (15,2% versus 17,2%; p=0,0128), este último atingindo significância estatística pelos critérios adotados pelo estudo. Por sua vez, a bivalirudina não se mostrou superior à administração de HNF.
Dessa forma, o acesso radial consolida-se como a primeira escolha no atendimento aos pacientes com diagnóstico de SCA submetidos à estratificação de risco invasiva. Maior domínio técnico, obtido através de sua utilização rotineira, idealmente superior a 80% da casuística individual e do centro, facilitado pela disponibilização crescente de dispositivos dedicados, traduz-se em menores taxas de cruzamento entre as vias (reportado em 5,8% dos casos no estudo MATRIX) e de exposição radiológica, comprovademente menor com o emprego do acesso femoral.
A despeito do refinamento e maior versatilidade atual dos operadores com as técnicas radial, ulnar e radial distal, a manutenção da proficiência, possibilitando efetivar procedimentos pelo membro inferior, constitui-se em requisito essencial, uma vez que complicações vasculares graves têm ocorrência mais frequente quando a técnica femoral considerada ideal, qual seja, auxiliada por parâmetros anatômicos, angiográficos ou ultrassonográficos, além de dispositivos de oclusão vascular para hemostasia, é pouco utilizada.
Kolkailah AA, Alreshq RS, Muhammed AM, et al. Transradial versus transfemoral approach for diagnostic coronary angiography and percutaneous coronary intervention in people with coronary artery disease. Cochrane Database Syst Rev. 2018 Apr 18;4:CD012318.
Sousa-Uva M, Neumann FJ, Ahlsson A, et al.; ESC Scientific Document Group. 2018 ESC/EACTS Guidelines on myocardial revascularization. Eur Heart J 2018 Aug 27. doi:10.1093/eurheartj/ehy394 [Epub ahead of print].
Valgimigli M, Frigoli E, Leonardi S, et al.; MATRIX Investigators. Radial versus femoral access and bivalirudin versus unfractionated heparin in invasively managed patients with acute coronary syndrome (MATRIX): final 1-year results of a multicentre, randomised controlled trial. Lancet. 2018 Aug 24. pii: S0140-6736(18)31714-8. doi: 10.1016/S0140-6736(18)31714-8. [Epub ahead of print].
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